A cerimónia de entrega de prémios do concurso de poesia difundido pela Câmara Municipal e em parceria com o pelouro da Cultura da Junta de Freguesia e o Núcleo de Atletismo de Cucujães (NAC), por meio da Biblioteca Ferreira de Castro, no sentido de homenagear o grande poeta cucujanense Agostinho Gomes e ao mesmo tempo despertar para produção de poesia original realizou-se no dia 28 de outubro pelas 21h00.

Foto - Correio de Azeméis

Foto – Correio de Azeméis

Este é um concurso anual que já se organiza há 16 anos. Este ano a vencedora do primeiro prémio foi a cucujanense Ana Filipa Ferreira de Pinho. Em segundo lugar a Portuense, Ana Margarida Gomes Borges. Em terceiro lugar coube a Luiz Coelho Medina que é brasileiro e mora em Nova Iguaçu (Brasil). Já o prémio de Revelação Juvenil foi para a Beatriz Mª Vieira da Silva Salgueiro de Stª Maria da Feira.

Agostinho Francisco Gomes nasceu na freguesia de Couto de Cucujães a 7 de Janeiro de 1918.

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Agostinho Gomes

Passou a infância em Cucujães (até aos onze anos) e em Singeverga (Minho), dos onze aos quinze. Fez a instrução primária na terra natal (na Escola Primária do Picoto) e os estudos secundários foram repartidos por diversas escolas – Colégio de Singeverga, Colégio de Oliveira de Azeméis e Colégio Coimbra.

Agostinho Gomes exerceu sempre o professorado, passando pelos mais diversos estabelecimentos de ensino, conciliando a docência com a escrita onde deixou uma rica e variada obra literária publicada, desde poesia a ficção. Títulos como “Música do Silêncio”, “Ladeira” e “Ilha Verde” merecem destaque no campo da poesia, bem como “Um rio separa os homens” e “Terra Abandonada” no âmbito da ficção.

Faleceu em 11 de Julho de 1998 em Vila Nova de Gaia.

 

Poema vencedor

 

OUTONO DE FRIOS

Foi de pura lã

que o meu ventre de vento cobriste.

Era um outono de frios, eu,

e tecias em volta de mim,

à volta de mim, de volta p’ra mim…

Era de lã, mas ainda não era tempo.

Eu, de ventos postos,

soprava com frios o manto de lã.

Sim, que os frios,

quando de nada se deixam aquecer,

são sempre pedaços do corpo das nuvens

e nada as envolve, que elas são só coisas de evaporar pelo céu.

Continuavas ali.

Despias as ovelhas todas, de tudo,

tecias a lã no meu ventre e no meu peito deixavas os nós.

Não era tempo, ainda. Não o meu.

Eu era o tempo das aves fugirem.

Eu era os frios, e neles não florescem ninhos.

Com o tempo, com um manto,

o teu manto amansou de lãs o vento e o ventre, meu

e o meu peito empurrou as nuvens de nada

e os frios ficaram só pequenos de sol.

De dedos cresceram mãos, que de quente ninhos

fizeram voltar os pássaros ao meu colo,

a parirem ovos no meu peito,

batendo asas minha boca fora.

Deixara de ser frios.

Era já pontas de primavera.

Quando, para mim, era já tempo, o tempo, teu, passou…